Minha Alma Tem Sede de Ti

“Ó Deus […]. Minha alma tem sede de ti, […] como terra seca, esgotada e sem água”. Sl 63.2.
O homem de nosso tempo, ao prescindir de Deus Pai, entregue a si mesmo, afunda-se na insegurança, e procura como tábua de salvação algo que não seja a sua auto-suficiência precária: religiões substitutas, que não exijam dele renúncias e submissão, mas que lhe sirvam de suporte e segurança; crenças que fazem parte da promoção desses supermercados da fé onde se oferecem opções variadíssimas para todos os gostos. A proliferação de seitas, de misticismos esquisitos, de filosofias panteístas de sabor oriental, com ressonâncias ecológicas, de religiosidades esotéricas e outras mil espécimes fantásticas.
Nunca houve tanta falta de fé autêntica e nunca houve, paralelamente, tantas produções e invenções espirituais mirabolantes. O homem “racionalista” do século presente parece ter voltado ao mundo primitivo povoado de obscuros e irracionais cabalismos mágicos. Tudo é uma conseqüência da falta de proteção de um Pai eterno. É simplesmente, nostalgia de Deus; um eco daquelas palavras de Davi: “Ó Deus […]. Minha alma tem sede de ti, […] como terra seca, esgotada e sem água”.
Neste mundo de perplexidades, em que os homens quando sentem medo se agarram ao que podem, a um precário apoio humano ou a espiritualismos estranhos e superstições esquisitas, o Senhor estende-nos sempre a Sua mão – como a estendia a um Pedro apavorado – para que a agarremos com firmeza.
Essa mão está continuamente ao nosso lado, para encontrarmos nela como que a conexão com a rede infinita da onipotência e do amor de Deus. Como se, por um ato de profunda fé, nos tornássemos condutores de toda a luz, de todo o calor e de todo o poder de Deus. Já tivemos a experiência da Sua presença inefável ao nosso lado? Já nos sentimos alguma vez mergulhados na corrente do mais alto e mais sublime amor, que é o amor de Deus? Pela vivência pessoal, já fizemos nossas, aquelas palavras de Paulo: “Tudo posso naquele que me fortalece?” Quando existe essa experiência encarnada, a vida de um homem muda completamente.
Jesus cria um clima de bondade e de simplicidade atraente. Sua personalidade imponente, seu poder imenso não assusta. Sua simpatia e seu sorriso nos encantam. Sentimos-nos felizes de que Jesus imponha as Suas mãos sobre nós, seus filhos e nos tenha perto de Si.
Filhinha (o) aproxime-se do Pai com as disposições das crianças: com simplicidade, sem preconceitos, com a alma aberta de par em par. Mais ainda, é necessário que nos tornemos como crianças para entrar no Reino dos céus.
O Senhor não recomenda a puerilidade (ingenuidade), o infantilismo, e sim a inocência e a simplicidade. Vê nas crianças traços e atitudes essenciais para alcançarmos o céu.
A criança não tem nenhum sentimento de auto-suficiência; precisa constantemente de seus pais, e sabe disso; é fundamentalmente um ser carente. Assim dever ser o cristão diante de seu Pai: um ser que é todo ele necessidade. A criança é transparente: revela as suas limitações, chora, grita se for preciso: assim devemos proceder em nossa oração e em nossas confidências com quem dirige nossa alma. A criança vive em plenitude o presente e nada mais; a doença do adulto é a inquietação excessiva pelo “amanhã”, que o leva a deixar vazio o “hoje”, quando era o “hoje” que deveria viver com toda a intensidade.
Deveríamos ser exímios doutores na ciência da infância espiritual, da confiança e do abandono nas mãos de Deus.
Filhinha (o) deseje ardentemente chegar aos cumes da santidade, mas conhecendo suas fraquezas. A única coisa que pode fazer é esforçar-se para realizar tudo o que está dentro da sua capacidade humana e esperar depois, com confiança, na ação poderosa de Deus.
Como crianças devemos tentar subir a imensa escada da santidade. Lá em cima está nos esperando o Senhor e nos chama. Talvez você tente subir o primeiro degrau, mas não consiga. O seu pé não chega a alcançá-lo: escorrega e cai. Tente outra vez! Porém, não desanime! Perseverante insista! E num determinado momento, nosso Pai desce a escada, te pega em Seus braços e, num instante, chegas até o cimo (até a parte mais elevada).
Sabendo que Deus não nos pode inspirar desejos inatingíveis, temos de continuar insistindo, fazendo tudo o que depende de nós, pois vivemos na esperança de que nosso Pai ao ver nossa perseverança descerá um dia, nos pegará nos braços e nos erguerá até o cimo da escada.
A prática dessa infância espiritual nos proporciona uma segurança, uma fortaleza e uma audácia de gigantes. Essa infância espiritual comunica-nos um enorme benefício. Quando somos crianças não podemos desanimar ao sentir nossa debilidade. Como admirar-se da fraqueza de quem já é fraco por natureza?
A fraqueza constitui, então, não um motivo de desânimo, mas um autêntico argumento para solicitar imperiosamente a ajuda de Deus:
Não queiras ser grande. Criança, criança sempre, ainda que morras de velho. Quando uma criança tropeça e cai, ninguém estranha…, seu pai se apressa em levantá-la.
Quando quem tropeça e cai é mais velho, o primeiro movimento é de riso. Às vezes, passado esse primeiro ímpeto, o ridículo cede o lugar à piedade. Mas os mais velhos têm de se levantar sozinhos.
Tua triste experiência cotidiana está cheia de tropeções e quedas.
Que seria de ti se não fosses cada vez menor?
Não queiras ser grande, mas menino. Para que, quando tropeçares, te levante a mão de teu Pai-Deus. (Josemaria Escrivá).
Meu benzinho sentir-se filha (o) pequena (o) do Pai nos transmite uma fortaleza de ferro, uma segurança inabalável, uma imensa paz e alegria: é a grandeza de ser pequena (o).
Beijos em seu coraçãozinho,
Regina Lopes
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