Enrolando a Liberdade em Arame Farpado

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“É importante para você saber isso também, Timóteo, que nos últimos dias vai ser muito difícil ser cristão. Porque as pessoas só amarão a si mesmas e ao dinheiro; serão orgulhosas e fanfarronas, zombarão de Deus, desobedecendo aos pais, sendo ingratas com eles e completamente más. Serão duras de coração e nunca se submeterão aos outros; serão sempre mentirosas e desordeiras, e não se incomodarão com a imoralidade. Serão rudes e cruéis, e escarnecerão daqueles que procuram ser bons. Atraiçoarão seus amigos; serão irascíveis, inchadas de orgulho, e preferirão divertir-se a adorar a Deus. Irão à igreja, sim, porém não acreditarão realmente em nada do que ouvem. Não se deixe enganar por gente assim”. 2Tm 3.1-5.

Bauman diz que há estilos de vidas capazes de confundir a mente, provocar calafrios e colapsos nervosos – ele diz que as ruas das cidades contemporâneas estão repletas de diversos seres humanos com este estilo de vida. Ele também fala da probabilidade de se intensificarem no curso do tempo, as tensões oriundas da exasperante/confusa/irritante estranheza desse cenário que provavelmente continuarão a estimular impulsos segregacionistas.

São oferecidas as vidas diferenças excludentes e desconcertantes, incontestáveis e refratárias. É oferecido um espaço ao mesmo tempo inclusivo e excludente, bem demarcado e protegido e assim se assegura para si mesmo, para os amigos, parentes e outras “pessoas como nós”, um território livre daquela miscelânea que irremediavelmente aflige a outros.

Ele fala de um impulso que conduz a ilhas de semelhança e mesmidade em meio a um oceano de variedade e diferença.

Bauman esta falando da mixofobia (medo mórbido de sujeira, imundícies ou de contaminação) cujas raízes são banais – nem um pouco difíceis de localizar, fáceis de compreender.

Richard Sennett diz que “o sentimento ‘nós’, que expressa um desejo de ser semelhante, é uma forma de os homens evitarem a necessidade de examinarem uns aos outros com maior profundidade”.

Sennett fala da perspectiva de tornar o convívio algo mais fácil de suportar, cortando-se o esforço de compreender, negociar, comprometer-se, exigido quando se vive com a diferença e em meio a ela. O desejo de evitar a participação real é inato ao processo de formar uma imagem coerente da comunidade. Sentir que existem vínculos comuns sem uma experiência comum ocorre, em primeiro lugar, porque os homens tem medo da participação, dos perigos e desafios que ela traz e de sua dor.

Bauman diz: “o impulso na direção de uma “comunidade de semelhança” é um signo de recuo não apenas em relação à alteridade externa, mas também ao compromisso com a interação interna, ao mesmo tempo intensa e turbulenta, revigorante e embaraçosa”.

No balé da vida podemos observar a atração que muitos “atores” tem por uma “comunidade de mesmice” e isto significa a segurança contra os riscos de que está repleta a vida cotidiana num mundo polifônico. Ela não reduz os riscos, muito menos os afasta. Como qualquer paliativo, promete apenas um abrigo em relação a alguns dos efeitos mais imediatos e temidos desses riscos.

Bauman diz que escolher escapar à opção apresentada pela mixofobia tem uma consequência insidiosa e deletéria: quanto mais ineficaz se mostra essa estratégia, mais ela se torna capaz de se perpetuar e se consolidar por si mesma. Paulo já sabia disso e escreve a Timóteo a respeito dessas coisas: “É importante para você saber isso também, Timóteo, que nos últimos dias vai ser muito difícil ser cristão. Porque as pessoas só amarão a si mesmas e ao dinheiro; serão orgulhosas e fanfarronas, zombarão de Deus, desobedecendo aos pais, sendo ingratas com eles e completamente más. Serão duras de coração e nunca se submeterão aos outros; serão sempre mentirosas e desordeiras, e não se incomodarão com a imoralidade. Serão rudes e cruéis, e escarnecerão daqueles que procuram ser bons. Atraiçoarão seus amigos; serão irascíveis, inchadas de orgulho, e preferirão divertir-se a adorar a Deus. Irão à igreja, sim, porém não acreditarão realmente em nada do que ouvem. Não se deixe enganar por gente assim”.

Paulo está falando de um tempo em que os seres humanos iriam enrolar sua liberdade em arame farpado. Para Sennett quanto mais às pessoas permanecerem num ambiente uniforme – na companhia de outras “como elas”, com as quais podem “socializar-se” de modo superficial e prosaico sem o risco de serem mal compreendidas nem a irritante necessidade de tradução entre diferentes universos de significações, mais se tornam propensas a “desaprender” a arte de negociar um modus covivendi e significados compartilhados.

Penso que a estes seres humanos não resta outra coisa a não ser enrolar-se no arame do egoísmo, do orgulho, da ingratidão, da imoralidade, da crueldade, da traição, da incredulidade.

Paulo descreve a Timóteo o ser humano que comporia a igreja nos últimos dias. Ele alerta a Timóteo sobre um ser humano ainda mais assustador na medida em que se torna cada vez mais diferente, exótico e em que o diálogo e a interação que poderiam acabar assimilando sua “alteridade” se diluem. Paulo fala de um tempo em que o impulso conduziria a um ambiente homogêneo e territorialmente isolado que poderia ser disparado pelo medo mórbido “de sujeira, imundices ou de contaminação”.

Baumam como o apóstolo Paulo não acreditam que esta postura do homem do tempo do fim venha se exaurir ou a perder seu vigor:  “Mas eles não escaparão impunemente para sempre nisso tudo (…)” (ver.9)

O que ambos estão dizendo que é continuaremos no caminho encontrando seres humanos que amarram sua liberdade em arame farpado. Mesmo que a irradicação total da postura descrita por Paulo seja improvável, dada a crescente mobilidade humana na líquida era moderna, assim como a acelerada mudança de papéis, tramas e ambientes do cenário da igreja, é possível fazer alguma coisa para influenciar as proporções em que a ganancia, a zombaria, a dureza de coração, as mentiras, as desordens, as traições, o orgulho se combinam, e assim reduzir o impacto, que confunde e tende a gerar uma sociedade desesperançada.

Paulo está dizendo a Timóteo que ele pode ajudar a muitos independentemente das futuras guinadas da história da igreja: “Mas você deve continuar a crer nas coisas que lhe foram ensinadas. Você sabe que elas são verdadeiras porque sabe que pode confiar naqueles que, dentre nós, lhe têm ensinado. Você sabe como as Sagradas Escrituras lhe foram ensinada quando você ainda era bem pequeno; e são elas que o fazem sábio para aceitar a salvação de Deus pela confiança em Cristo Jesus. A Bíblia inteira nos foi dada por inspiração de Deus e é útil para nos ensinar o que é verdadeiro e para nos fazer compreender o que está errado e nossas vidas; ela nos endireita e nos ajuda a fazer o que é correto. Ela é o meio que Deus utiliza para nos fazer bem preparados em todos os pontos, perfeitamente habilitados para fazer bem a todo mundo.” (2 Tm 3.14-17).

É Ele que suprirá todas as nossas necessidades por meio das suas riquezas na glória, por causa do que Jesus Cristo fez por nós. Agora, a Deus, nosso Pai, seja a glória para todo o sempre.

Com estima,

Regina Lopes

“O homem de bom senso sabe entender e julgar os fatos da vida, mas a mente do tolo é cheia de ilusões e ele acaba enganando a si mesmo” Pv 14.8.
 

 

 

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