A falta que Deus sente – Marco Aurelio Brasil
De fato, Deus não seria Deus se precisasse de alguma coisa nossa. Ele, por definição, não precisa. Mas o mais curioso é que algumas vezes vejo Deus Se comportando como se preciasse. Quando Adão e Eva viram-Lhe as costas, Ele vai atrás deles no jardim; quando o povo dEle se desviava da rota segura, Ele tentava os mais diversos métodos para capturar de novo seu coração e mente. Ele afirma coisas como “pois que com amor eterno te amei, também com amorável benignidade te atraí” (Jeremias 31:3). Eu poderia continuar dando uma extensa lista de exemplos dessas atitudes surpreendentes de Alguém com tais caracteristícas.
Mas o que explica essas reações inusitadas de um Deus transcendente, a característica com Platão não contava e que faz com que Ele Se ocupe de criaturas insignificantes que insistem em ignorá-lO e desprezá-lO, é tao simples como o amor. Não há dúvidas, Deus ama. O que mais poderia fazê-lo apropriar-se das necessidades de outros? É o amor que faz isso. A necessidade que Deus expressa de nos ter por perto, de ter nossa companhia, na verdade é a nossa necessidade de estar com Ele, mas porque Ele nos ama tanto, acaba pegando para Ele nossa carência mais profunda, acaba sofrendo se não tem aquilo cuja ausência é a fonte de nosso sofrimento.
O amor, no fim, subverte a lógica. Porque ama, Deus sente falta de mim. Quando eu reconhecer que minha maior angústia é justamente sentir falta de Deus, verei que o que eu mais quero é exatamente o que meu Deus – o onipotente – quer, e serei feliz.